PesquisarOportunidadesEventosSobre a C&Hubs
C&
Revistas
Projetos
Education
Comunidade
community art

Sou monumental: o poder das raízes africanas

I Am Monumental: The Power of African Roots

Marta Moreno Vega no Festival Soy Monumental, 2024 A Dra. Marta Moreno Vega se dirige ao público durante a pré-abertura da escultura El Gran Fogón Comunitario de Daniel Lind-Ramos, como parte do Festival Soy Monumental realizado na ORI Micro Galeria Afro, COPI e Corredor Afro.

16 July 2025

Magazine América Latina Magazine

Words Nicolás Vizcaíno Sánchez

6 min de leitura

Numa ponte entre Nova York e Loíza, Marta Moreno Vega e Olga Chapman-Rivera nos proporcionam conceitos norteadores, inspirados na ancestralidade iorubá, para criar instituições culturais fundamentais que sirvam à memória, à resistência e à celebração da diáspora africana nas Américas.

C& América Latina: Doutora Moreno Vega, o que pode a senhora, como portadora dessa sabedoria específica de quem transita entre seu altar e uma escrivaninha, nos dizer sobre o espírito que a tem inspirado a criar coletivamente?

Marta Moreno Vega: O artista, as pessoas criativas, precisam entender o que é a nossa história e as nossas experiências, porque a arte é uma criação e uma reflexão do que somos, uma expressão e uma visão do que queremos ser. Se tiver que olhar para os passos que dei… é que não quero que ninguém defina quem eu sou, que defina o que é a arte (a imaginação, o nosso Ori), que defina o que quero ser e criar. É que temos que determinar nós mesmos essas definições, em família, em comunidade, porque a imaginação é um processo de desenvolvimento e aprendizado, não é?

A mosaic portrait of a smiling child with dark hair against a red background, framed by patterned tiles. A banner below reads 'ADOLFINA VILLANUEVA'.

Celso González, Permanecer, 2024. Em homenagem a Adolfina Villanueva Osorio, assassinada pela polícia em 1980, em Loíza, Porto Rico. Giclée sobre papel, 61 × 91,4 cm | 24 × 36 in.

Recordo-me quando estava criando El museo del barrio e fui até o Conselho das Artes em Washington D.C. apresentar o projeto: expliquei que El museo del barrio queria dizer o museu da comunidade, right? A pessoa responsável pela programação cultural me disse: “Vocês não são museu. Por que vocês se chamam de museu? Quem disse a vocês que eram um museu?” E eu respondi: “Por que você está me perguntando isso, se eu estou te dizendo que é um museu?” E ele me disse: “Esta não é a definição que nós temos de museu, e por esse motivo não podemos te apoiar.” Agora, se eu tivesse aceitado essa definição que estavam me dando, teria fechado as portas do nosso projeto e montado um programa escolar criado pela nossa comunidade. Mas eu entendi que El museo del barrio era o coração da nossa gente, das nossas comunidades, das nossas mães e pais, e que, se não conseguíssemos apoio oficial, o apoio viria da nossa comunidade e da nossa gente. E a primeira exposição foi feita baseada no mundillo que nossas mães faziam: as rendas que nossas mães produziam. Fizemos isso sem apoio, porque nós decidimos que, sim, era um museu, e não porque alguém dissesse que ele precisava ter suas qualificações para ser um museu. Nossa comunidade do Barrio entendeu a importância das nossas tradições e histórias para fortalecer os nossos jovens no futuro.

Ancestral cooking in Loíza. Community leaders Aracelis Pizarro and her daughter, keepers of the fogón loiceño tradition, prepare dishes from Afro-Puerto Rican cuisine. Loíza is recognized as the culinary and cultural mecca of African heritage in Puerto Rico.

Ancestral cooking in Loíza. Community leaders Aracelis Pizarro and her daughter, keepers of the fogón loiceño tradition, prepare dishes from Afro-Puerto Rican cuisine. Loíza is recognized as the culinary and cultural mecca of African heritage in Puerto Rico.

C&AL: O que diria às juventudes da diáspora africana que hoje atuam no campo cultural com tanta precariedade e desequilíbrio?

MMV: Acho que temos que estar seguros sobre quem somos, definir quem somos e como vamos nos organizar para criar um futuro agora mesmo. Parte do sistema opressivo é impedir você de fazer as suas coisas. De criar. De pensar. É paralisar você. Viver com medo. Neste momento, o que estamos vivendo no país é difícil, é a primeira vez que vamos passar por isso da maneira que estamos passando, acho eu, right? E quais são as conversas? Sim, isso está acontecendo, mas... o que vamos fazer? Como vamos nos posicionar? O que vamos criar? Como é estar em uma comunidade de apoio? Porque é... como digo a você?... É uma responsabilidade que temos: você tem, eu tenho, não importa a idade que tenhamos. É fazer um futuro melhor para a nossa gente, para a nossa família. Tenho duas netas. Quero um mundo melhor para elas e o que faço é para torná-lo melhor. E para celebrar... porque não é só a luta, a resistência. Não! É curtir o que somos, celebrar o poder de ser e ousar ver um futuro para os que vêm aí. E quando celebramos o que somos, o que fizemos e o que ainda vamos fazer: aí está a inspiração.

Temos um projeto que decidimos chamar de Soy monumental(Sou monumental). Porque, se nos olharmos historicamente, se virmos todas as coisas pelas quais passamos, tudo o que criamos, tudo o que fizemos, temos que ver que somos monumentais, somos o que queremos ser, certo? Porque chegamos a um ponto ao qual nem meus pais - e, vamos dizer - nem minhas avós e avôs chegaram. Porque o que fiz não foi feito no vazio, foi feito porque eu tinha mãe e tinha meu pai e tinha minha avó e as histórias do meu avô. Então somos a continuidade das raízes que somos.

Olga Chapman-Rivera: Essa continuidade é importante, já que a modernidade tanto nos disse que existe uma força interior individual, mas que não se conecta com essa ancestralidade de que fala Marta. Os sistemas do capital tanto disseram sobre o esforço individual: que você é único e especial, um monte de coisas..., mas é bem importante para nossas comunidades nos enraizarmos: na nossa família, em nossos ancestrais, nas pessoas que nos formaram..., porque isso é o que nos faz tocar a terra e que nos sustenta apoia em momentos difíceis. Quando sentimos que as coisas que estão acontecendo no mundo são difíceis de lidar, é essa conexão, o gerirmo-nos coletivamente, gerirmo-nos a partir da comunidade, o que nos dá base. O que eu mais diria a qualquer pessoa jovem é que olhe para a sua gente, veja quem é a sua gente, quem é a sua comunidade, sua tribo, sua família, de agora ou de antes. E que há um trabalho que se faz a partir da individualidade, mas há um trabalho que se faz a partir do coletivo: apoiarmo-nos em rede, em solidariedade. É por aí que a coisa vai...

corredorafro.org

Tradução: Marie Leão

Marta Moreno Vega é educadora e professora de estudos africanos e latinos. Foi a segunda diretora do El Museo del Barrio em 1969 e co-curadora da exposição 500 Anos de Arte Porto-Riquenha, apresentada tanto no El Museo del Barrio quanto no Museu Metropolitano de Arte de Nova York. Foi fundadora da Associação de Artes Hispânicas e bolsista da Fundação Rockefeller, o que a levou a fundar o Centro Cultural do Caribe em 1974. Renunciou à sua direção há três anos para viver em tempo integral em Porto Rico.

Olga Chapman-Rivera é publicitária e comunicadora com ênfase na interseccionalidade de gênero e nas comunidades afro e LGBTTQ+. É especialista em desenvolvimento e planejamento de marcas por meio da hiperfocalização de audiências, da cultura, do policulturalismo e da transformação digital. Faz parte da equipe por trás do Corredor Afro.

Nicolás Vizcaíno Sánchez é um artista afrodescendente que vive em Bogotá, Colômbia. Exibe e escreve ocasionalmente como parte de sua prática artística conceitual.

Mais artigos de

Irmandade Vilanismo: Bringing Poetry of the Periphery into the Bienal

Irmandade Vilanismo: introduzindo a poesia da periferia na Bienal

Fundação Bienal de São Paulo Announces List of Participants for its 36th Edition - Contemporary And

Fundação Bienal de São Paulo Announces List of Participants for its 36th Edition

Dispatches from Tint Library’s London Pop-Up - Contemporary And

Dispatches from Tint Library’s London Pop-Up